Manifestamos o nosso repúdio ao discurso do ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil, que utilizou uma expressão racista, em entrevista coletiva, concedida à imprensa, dia 25 de março, para anunciar que deixaria o cargo de prefeito para disputar o governo de Minas. O ex-prefeito disse que o período “mais negro” de sua gestão aconteceu com a chegada da pandemia por ser o “inferno da politicagem, do negacionismo e do pior”. É necessário dizer que essa expressão reproduz o racismo de linguagem e reforça o preconceito estrutural, que tem como marca histórica a negação da vida, da humanidade e dos direitos da população negra. É um discurso racista.
O ex-prefeito poderia ter citado o povo negro em seu discurso com um enfoque muito diferente: mais justo digno e assertivo. Poderia ter dito, por exemplo, que neste período pandêmico foi a população negra que mais sofreu.
A população negra é maioria nas regiões periféricas, onde o transporte público, tão deficiente em nossa cidade, é o único meio de deslocamento. Foi sim a população negra que mais se expôs à pandemia em ônibus lotados e com o número de viagens reduzidas. Foi a população negra e periférica quem mais perdeu emprego e renda e o projeto para criação do Auxílio BH foi enviado à Câmara de Belo Horizonte no segundo semestre de 2021, portanto um ano e meio após o início da pandemia, quando a bancada do PT na Câmara já avançava na proposta de criação do Programa Renda Básica e Cidadania.
Durante o isolamento, da exclusão digital nas periferias impôs às crianças e adolescentes a total desvinculação da escola por período prolongado. Se o combate à pandemia foi eficiente em Belo Horizonte, e parece haver consenso sobre esta conclusão, é premente dizer que houve um custo social e quem pagou por ele.
O período não foi o “mais negro” da gestão de Belo Horizonte. Foi o mais racista, foi aquele em que as desigualdades estruturais e estruturantes ficaram mais evidentes. E, infelizmente, não houve política pública para garantir equidade e justiça social. O racismo estrutural se manifesta na ausência das políticas públicas, mas também na intencionalidade das narrativas e discursos.
Macaé Evaristo – Secretária Estadual de Combate ao Racismo Coletivo Estadual de Combate ao Racismo
Belo Horizonte, 28/03/2022