Secretaria de Combate ao Racismo cobra Justiça por Moïse

Imigrante congolês foi assassinado no Rio por cobrar pagamento por trabalho em quiosque. Movimentos de combate ao racismo farão protestos em todo o país.
2022-02-04 20:14:57
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A Secretária Estadual de Combate ao Racismo do Partido dos Trabalhadores de Minas Gerais (PT-MG) publicou nesta sexta-feira (04/02/2022) nota de repúdio sobre o assassinato de Moïse Kabagambe. O congolês de 24 anos foi morto na segunda-feira (24) no Rio de Janeiro. Ele trabalhava em um quique, na Barra da Tijuca, e recebia diárias por sua mão de obra.

Segundo as investigações, Moïse foi espancado até a morte após cobrar R$ 200 por duas diárias de trabalho que ele ainda não havia recebido. O corpo dele foi encontrado amarrado em uma escada. Três agressores foram identificados. A Justiça pediu a prisão preventiva do trio. O dono do quiosque é um policial militar que já prestou depoimento. O caso está sendo investigado pelo Delegacia de Homicídios do Rio.

Manifestações

Neste sábado, dia 05 de fevereiro, coletivos e movimentos sociais de combate ao racismo vão promover atos em protesto pela morte de Moïse em várias cidades do Brasil. Mais de 200 entidades confirmaram a participação. Nas redes sociais, políticos e personalidades cobraram justiça para o caso.

Confira onde serão realizadas as manifestações: Atos #JustiçaPorMoise

Baixe o PDF da nota da Secretaria de Combate ao Racismo do PT-MG: Nota de Repúdio

Confira a íntegra da nota abaixo:

SECRETARIA ESTADUAL DE COMBATE AO RACISMO DO PARTIDO DOS TRABALHADORES E DAS TRABALHADORAS

NOTA DE REPÚDIO

Belo Horizonte, 04/02/2022

Nós, da Secretaria de Combate ao Racismo do PT de Minas Gerais, repudiamos veementemente o assassinato brutal de Moise Mugenyi Kabagambe, na noite de 24 de janeiro, no quiosque Tropicalia na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Um cidadão congolês, que estava no Brasil, refugiando da violência e trabalhando dignamente.

Moise Mugenyi Kabagambe foi espancado até a morte por uma quadrilha pelo simples fato de reivindicar o pagamento de seu trabalho no quiosque Tropicália. O gerente do estabelecimento e seus quatro comparsas o atacaram com pedaços de pau, covardemente, sem nenhuma chance de defesa.

Não se trata de uma morte resultante de uma briga e discussão por falta de pagamento. A motivação deste crime bárbaro é o racismo e a xenofobia. Moise, um homem negro, nascido em uma país africano e em busca da sobrevivência no Brasil, personificava a vida que o racismo estrutural brasileiro quer eliminar.

O desprezo à vida da população negra, alimentado pelas estruturas de poder, é criminosa e autoriza essa barbárie. Não gratuitamente, o corpo de Moise ficou no local do crime por quase uma hora, sem que nenhuma medida fosse tomada. Não gratuitamente, o corpo chegou ao Instituto Médico Legal sem identificação, mesmo o assassinato ocorrendo no seu local de trabalho, espaço de convivência de Moise com seus agressores. O abandono de corpo dele é o mesmo das vidas negras no Brasil.

Desprezo à vida, negação de direitos, violência e torturas contra negros e negras não podem ser naturalizados, normalizados ou aceitos socialmente. Nossa indignação e revolta não podem se perder entre os casos de ontem, de hoje e do próximo, em meio a um quadro socioeconômico caótico e desumano que vivemos no Brasil. Queremos Justiça para Moise Mugenyi Kabagambe e para cada homem, mulher ou criança que tomba há tantos séculos pelo racismo no Brasil. Queremos Justiça por Moise Mugenyi Kabagambe e por cada refugiado e refugiada que for alvo de preconceito e tiver seus direitos negados no nosso país. Queremos justiça por todo corpo negro violentado no Brasil.

O assassinato de Moise Mugenyi Kabagambe não foi uma fatalidade. Não foi sem querer. Foi o reflexo da sociedade brasileira e houve uma nítida intencionalidade que retrata de forma inequívoca a face racista, xenofóbica, intolerante e desumana de um país estruturado no escravagismo e fundamentado na exploração dos corpos negros.

Responsabilização e punição aos criminosos é a aplicação da lei. As medidas de proteção à vida e aos direitos das populações negra, refugiada e vulneráveis é o que queremos e são as bandeiras que empunhamos com toda nossa força e determinação. Não há paz, não há democracia onde há racismo, opressão e preconceito. Lutamos e sempre lutaremos pela vida com nossas mentes e corpos negros porque somos os alvos, mas a nossa força transforma o substantivo LUTO no verbo LUTO, nossos corpos de alvos em armas de resistência e transformação. Se a sociedade brasileira tem nos colocado à margem, nós mudaremos a sociedade brasileira.

Macaé Evaristo – Secretária Estadual de Combate ao Racismo
Coletivo Estadual de Combate ao Racismo