“Nada justifica matar crianças”, diz Lula em discurso na ONU

Ao lado dos governantes francês e saudita, presidente brasileiro defende reconhecimento do Estado palestino e critica omissão do Conselho de Segurança.
2025-09-22 20:08:00
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O presidente Lula discursou nesta segunda-feira (22) em Nova York, durante a Conferência Internacional para a Resolução Pacífica da Questão Palestina e a Implementação da Solução de Dois Estados, convocada pela França e pela Arábia Saudita. A reunião ocorreu um dia antes do início da Assembleia Geral da ONU, que será aberta nesta terça-feira (23) pelo brasileiro, seguindo a tradição.

Logo no início, Lula cumprimentou o presidente francês Emmanuel Macron e o primeiro-ministro saudita Mohammed Bin Salman pela liderança no encontro e lembrou que a intenção da criação de dois Estados nasceu em 1947, quando a ONU aprovou o plano de partilha criado pelo diplomata brasileiro Oswaldo Aranha. “Naquela ocasião nasceu a perspectiva de dois Estados, mas só um se materializou”, lamentou.

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Críticas a Israel e ao bloqueio da ONU

Em sua fala, o presidente brasileiro denunciou a ocupação de territórios palestinos e afirmou que a comunidade internacional não pode ignorar a limpeza étnica em curso. “Como falar em território diante de uma ocupação ilegal que cresce a cada novo assentamento? Como manter uma população diante da limpeza étnica a que assistimos em tempo real?”, questionou.

Segundo Lula, o conflito é “símbolo maior dos obstáculos enfrentados pelo multilateralismo” e a tirania do veto no Conselho de Segurança compromete a própria razão de ser da ONU. “Também vai contra sua vocação universal, bloqueando a admissão como membro pleno de um Estado cuja criação deriva da autoridade da própria Assembleia Geral”, completou.

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Genocídio em Gaza

Lula classificou como inaceitáveis os atos terroristas cometidos pelo Hamas, mas frisou que não há desculpas para a reação desproporcional de Israel. “O direito de defesa não autoriza a matança indiscriminada de civis. Nada justifica tirar a vida de crianças. Nada justifica destruir 90% dos lares palestinos. Nada justifica usar a fome como arma de guerra, nem alvejar pessoas famintas em busca de ajuda”, denunciou.

E reforçou: “O que está acontecendo em Gaza não é só o extermínio do povo palestino, mas uma tentativa de aniquilamento de seus sonhos de nação.”

O presidente chamou atenção para a crise humanitária. Segundo ele, mais de meio milhão de palestinos não têm comida suficiente, número superior à população de cidades como Miami ou Tel Aviv. “A fome não aflige apenas o corpo, ela estilhaça a alma”, criticou.

Lula lembrou que o Brasil reconhece oficialmente a Palestina desde 2010, em seu segundo mandato, dentro das fronteiras de 1967, o que inclui a Faixa de Gaza e a Cisjordânia.

Nos últimos meses, esse movimento ganhou força em todo o mundo: Canadá e Reino Unido estão entre os mais recentes a oficializar o reconhecimento, juntando-se a mais de 140 países que já haviam tomado essa decisão. O gesto foi considerado simbólico por se tratar das duas primeiras nações do G7 a adotar a medida, ao lado de outros governos europeus, como Espanha, Irlanda, Noruega, Eslovênia e, agora, Portugal. Hoje, cerca de 80% dos 193 países-membros da ONU reconhecem formalmente o Estado palestino.

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Reforma do multilateralismo

Diante da omissão do Conselho de Segurança da ONU, Lula defendeu que a Assembleia Geral assuma responsabilidades. Ele apoiou a criação de um órgão inspirado no Comitê Especial contra o Apartheid, que desempenhou papel central no fim do regime racista da África do Sul. 

“Afirmar o diálogo e a autodeterminação da Palestina é um ato de justiça e um passo essencial para restituir a força do multilateralismo e recobrar nosso sentido coletivo de humanidade”, concluiu, mostrando mais uma vez ao mundo sua capacidade de buscar soluções tendo a escuta e a paz como eixos centrais. 

Da Redação