*Por Rodrigo Botelho Campos
Gaia, a Terra, desde sempre vive em permanente mudança. Ao longo de milhões de anos as mudanças climáticas foram decisivas para o desdobrar da vida no planeta.
Com o surgimento, há milhares de anos, da espécie Homo Sapiens, nós, um novo curso foi dado à relação das espécies vivas com a terra onde vivem. Se antes os fatores de mudança eram naturais, o ser humano foi desenvolvendo modos de produção e exploração do solo, da água e do ar que caminham para destruir o planeta.
A agricultura foi a primeira grande atividade humana que gerou desmatamento e destruição do meio ambiente de maneira incremental. Com ela, o ser humano foi deixando de ser nômade, fixando-se e constituindo o modo de vida urbano, com novos desdobramentos de impacto ambiental. Perdura até hoje o expansionismo sobre florestas e áreas de preservação ambiental.
A indústria, mais recente em termos históricos, é a segunda grande atividade humana que gera impacto destrutivo. O aumento da exploração de jazidas minerais e o surgimento da poluição do ar, dos mananciais hídricos, o solo e subsolo são associados ao desenvolvimento da atividade industrial. Produtos de plástico (derivados de petróleo), por exemplo, flutuam atualmente nos oceanos na escala de 100 milhões de toneladas.
Para atender o desenvolvimento das forças produtivas cada vez mais se usa energia, numa demanda que não tem fim… Está aí a terceira grande atividade humana de impacto ambiental, que surge contemporaneamente à industrialização generalizada.
O carvão mineral foi a primeira grande fonte de energia calorífica para mitigar o impacto do frio no norte do planeta e gerar energia elétrica para iluminação.
O petróleo veio em seguida, com o impacto na atividade produtiva em escala ainda maior, sendo componente estruturante de indústrias enormes como a de geração de energia elétrica, a automobilística, a petroquímica e os meios de transporte. Carvão e petróleo são estruturantes da economia planetária até hoje.
Concomitantemente, outras fontes energéticas foram se expandindo, como a energia nuclear, e as chamadas energias renováveis, limpas ou de baixo carbono. Destas destacam-se a energia hidráulica, a eólica e a solar. Mais recentemente em termos históricos também surgiram as fontes energéticas decorrentes do aproveitamento de diversos tipos de resíduos, da biomassa ao lixo urbano e, mais recentemente ainda, o chamado hidrogênio verde.
Todas as fontes de energia, mesmo as mais tradicionais, continuam sendo objeto de estudos para otimização operacional e eficientização econômica, em estágios diversos de desenvolvimento científico e tecnológico.
Nesta quadra da vida humana, indicadores alertam para um ponto de inflexão. Afinal, tudo indica que o planeta não aguenta atender a demanda dos atuais 7 bilhões de seres humanos no nível de consumo de bens e serviços dos países capitalistas centrais. O Greenpeace alerta que, se estendermos a todo o planeta o padrão de vida médio do povo americano serão precisos 5 planetas Terra. Exemplo: nos EUA há um carro para cada habitante. São cerca de 300 milhões de veículos individuais. Levado ao conjunto do planeta este padrão de vida seriam necessários 7 bilhões de veículos consumindo derivados de petróleo, vidro, pneus de borracha, gerando poluição, caos urbano, etc.
Um outro planeta é necessário. No âmbito strictu sensu da geração de energia, uma outra matriz energética é necessária. A transição para a chamada economia de baixo carbono é a palavra de ordem contemporânea. Ela se faz urgente pelo impacto iminente da atual estrutura econômica e energética no nível de poluição do ar, da água, do solo e subsolo. Os países têm buscado a fixação de metas globais e locais para evitar o mal maior: o aquecimento global, a elevação do nível dos oceanos, a morte de espécies e o esgotamento de recursos de todo tipo.
Outro aspecto preocupante é o fato de que a população mundial aumentará em cerca de 3 bilhões de seres humanos até 2050. Imagine o incremento no uso da água, de madeira, de alimento, de energia, etc.
Muitas ações precisam ser feitas, mas na geração de energia se concentra um enorme foco de atenção, pois boa parte da agressão ao meio ambiente vem das atuais e principais fontes de energia: petróleo e carvão.
Mudar a matriz energética é uma diretriz planetária. Obviamente, todas as fontes de energia ainda conviverão por décadas, mas serão paulatinamente substituídas, numa verdadeira corrida de bastão. No momento em que a ciência e a tecnologia desenvolverem acumuladores de energia economicamente viáveis e ambientalmente sustentáveis as fontes renováveis, intermitentes, aceleração a substituição daquelas fontes tradicionais e mais poluentes.
Os desafios são enormes. Exemplo: mudar a estrutura de fabricação de veículos, a estrutura viária por onde trafegam, a instalação de novos pontos de abastecimento para novos combustíveis da era do baixo carbono, por si só exigirão investimentos de trilhões de dólares em escala planetária. Transponha isto para outros modais de transporte, fontes de suprimento energéticas e teremos um esforço a fazer nunca visto na história econômica da humanidade.
Crise é oportunidade. No modo de produção capitalista tudo se transforma em mercadoria, negócio…o que significa a destruição do velho para a chegada do novo. Enquanto isto não acontece viveremos uma crise estrutural. Estamos na pupila do olho deste furacão. Dará tempo para que todas as mudanças necessárias evitem o mal maior que é a Terra se revoltar contra a sua destruição? O desafio está lançado. Viva o dia mundial do meio ambiente. Vamos adiante, lutando por um outro planeta, uma Gaia sustentável!
*Rodrigo Botelho Campos é economista.
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Este é um artigo de opinião. O posicionamento do autor não representa necessariamente as ideias do PT-MG.