As abordagens e programas educacionais sobre Meio Ambiente parecem sempre se limitar à economia de água, destinação do “lixo no lixo” e reciclagem, e quando há maiores possibilidades, uma horta. Quando se aborda os Direitos Animais, o tema parece estar tão longínquo e limitado quanto a figura mística da Natureza que aparece nas imagens lá no Amazonas ou no Pantanal. Os Direitos Animais são reivindicados para algumas espécies de animais, não todas. Os silvestres, que compõe uma visão romantizada da natureza, e os cães e gatos, considerados de estima para os humanos, são os mais em pauta.
Limitar uma área de conhecimento ou mesmo uma reivindicação política social faz parte de um processo histórico que tem suas origens lá no Iluminismo, com Descartes e afins. Lá, inclusive se define que o Homem (destaquemos hoje o gênero) é o centro de todas as coisas do mundo e que, portanto, de tudo pode usufruir.
O Meio Ambiente e os animais não humanos tornam-se recursos no desenvolvimento industrial e na consolidação do capitalismo como sistema-mundo definitivo. Tamanho é este processo de distanciamento das vidas não humanas e da natureza, limitadas como recursos e propriedade privada, que até Marx, na sua genialidade comunista, vislumbra a revolução sob os moldes produtivistas.
Não, o Meio Ambiente não é lá longe. O Meio Ambiente é o ambiente que estamos, vivemos, descartamos, acimentamos, plantamos, respiramos… É o todo que nos cerca, que nos faz, onde quer que estejamos. Os animais não humanos fazem parte deste todo, e como nós, possuem relacionamentos, culturas, linguagens, compreensões… sentem medo, frio, dor, prazer. Como nós, que também somos animais.
Entre tantas coisas que nós superamos, que carregavam valores culturais e morais, ainda não conseguimos nos livrar do antropocentrismo produtivista europeu. O mesmo processo de coisificação – que reduz um ser à uma coisa – que impomos aos animais foi, durante muito tempo, aplicado às mulheres, crianças, pessoas negras e indígenas.
Nós matamos em ritmo industrial (70 bilhões de animais por ano, fora os marinhos) desmatamos para plantar grãos que virarão proteínas em corpos nascidos para serem mortos, que antes de assassinados contribuem com, pelo menos, 14,5% da emissão de gases do efeito estufa. Para produção de 1kg de carne, utiliza-se mais de 14 mil litros de água, que junto ao sangue contaminado com antibióticos, pesticidas, medo e dor, penetra nossas terras, cujo produção de grãos não alimentarão o ser humano.
Quando identificamos as estruturas racistas e sexistas da nossa cultura, nós conseguimos construir um objetivo e, mirando nele, um caminho. Enquanto não nos demos conta de que somos parte do Meio Ambiente e que os animais não existem para nos servir; que alteramos o nosso ambiente impondo uma vida artificial à custa das vidas das outras espécies, saqueando a natureza e desfazendo de vidas que não nos são importantes, nós caminharemos num distanciamento ilusório da natureza, até que nossa destruição atinja nossas necessidades mais básicas.
Nossa relação antropocêntrica só nos abre os olhos quando nos falta a água, a terra, o ar. Salvar as abelhas deveria estar num comportamento ético e não sustentando pelos interesses humanos. Infelizmente, é assim, na dor, que a anestesia do individualismo neoliberal deixa de nos embriagar. Aqui, torcemos para que ainda dê tempo de ser pelo amor.
Setorial de Direitos Animais do Partido dos Trabalhadores de Minas Gerais (PT-MG)
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Este é um artigo de opinião. O posicionamento do autor não representa necessariamente as ideias do PT-MG.