Vereadores, deputados, lideranças de movimentos sociais e representantes do PT, PSOL, Rede e PSB se encontraram, na manhã desta segunda-feira (29/05), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, em Belo Horizonte. O objetivo do encontro foi dar o primeiro passo para a construção de uma Rede de Parlamentares Negras e Negros em Minas da Frente Ampla Democrática.
O encontro foi conduzido pela secretária estadual de Combate ao Racismo do PT-MG, a deputada estadual Macaé Evaristo, e contou com a presença do presidente estadual do PT, o deputado estadual Cristiano Silveira; o secretário estadual do PSB e presidente da Negritude Socialista Brasileira, Igor Frederico; e Jozeli Rosa de Souza, representando o PSOL; e Alexandre Magno Martins Pacheco, representando a Rede Sustentabilidade.
Macaé Evaristo iniciou o encontro lendo uma carta da professora Luana Tolentino à Renata, mãe que viu obrigada retirar a filha da Edem, escola da Zona Sul do Rio de Janeiro, devido ao racismo que a menina vinha sofrendo. Escrita originalmente em 15 de julho de 2019 em Ouro Preto, a carta foi publicada no livro “Sobrevivendo ao racismo: Memórias, cartas e o cotidiano da discriminação no Brasil” (Editora Papirus 7 Mares), lançado no último dia 27. Na carta, Luana conta a situação de racismo que enfrentou quando era criança. Macaé destacou a importância do encontro, e da articulação que está sendo feita para a construção do Estatuto da Igualdade Racial em Minas.
Emoção
A carta lida por Macaé emocionou a deputada Ana Paula Siqueira (Rede Sustentabilidade), que também compartilhou o testemunho do racismo que sofreu quando estava no ensino fundamental. Ela recordou que, certo dia, a professora tirou a mochila dela da carteira, uma das poucas alunas negras da escola, dando lugar a um aluno branco que chegou atrasado. Além da discriminatório, o ato expôs a menina Ana Paula ao ridículo, uma vez que ela teve que ir, de sala em sala, para conseguir uma carteira para se sentar.
Ana Paula lembrou que esse momento, apesar de tê-la machucado profundamente, permitiu que ela tomasse consciência das injustiças sociais, o que foi fundamental para chegar à política institucional. Ana Paula destacou a eleição das primeiras mulheres negras para a ALMG – Andréia de Jesus, Leninha e ela -, a reeleição das três, e a chegada de Macaé Evaristo.
Racialização
A deputada Andréia de Jesus (PT) ressaltou que as políticas de universalização não atendem à população negra, sendo necessário fazer uma discussão da racialização das políticas públicas. Ela lembrou que até mesmo a Carta de Direitos Humanos não atende às especificidades da população negra, exemplificando a situação da população carcerária, majoritariamente formada por pessoas negras, que recebe o pior tratamento, inclusive com o mais básico dos direitos, à alimentação. A deputada ainda defendeu que os corpos negros ocupem espaço na ALMG, “um espaço de muito poder” e destacou o avanço de Leninha na vice-presidência.
Leleco Pimentel (PT) afirmou que se junta à luta dos parlamentares negros, que estão em lugar social na qual ele se reconhece e de onde construiu sua militância. Cristiano Silveira destacou a importância do encontro para a política. “Movimento é fundamental, não é só importante. É necessário”, pontuou. Ele sintetizou a fala dos parlamentares. Ele lembrou que a maioria dos relatos é de mulheres negras que se elegeram para as câmaras municipais, onde atuam, de forma minoritária, contra um parlamento formado majoritariamente por homens brancos.
“E nós voltamos sempre”
A vereadora de Governador Valadares Gilsa Santos (PT) apresentou um poema, que lembrou que para que os parlamentares negros fossem eleitos nos dias de hoje foram necessários os passos de outros e outras que vieram antes, como Zumbi dos Palmares, Abdias do Nascimento e Marielle Franco. Ela citou lideranças negras que abriram caminhos. “E nós voltamos sempre”, repetia ao final de cada nome citado.
A vereadora de Lavras Rose de Oliveira (PT) ficou muito emocionada com o encontro e destacou que esse aquilombamento a fortalece. Ela é a única mulher negra na oposição no legislativo de sua cidade. Mas mesmo atuando em menor número, destacou uma vitória: a aprovação do Estatuto Municipal de Igualdade Racial.
A vereadora de Araxá Leni Nobre (PT) destacou que a atuação de parlamentares progressistas, que quase sempre dão o voto solitário. “Quando é 13 a 1, orgulho-me por ser um voto, mas um voto técnico, ético, correto, pensando na população, na representatividade da mulher negra”, disse em relação ao placar de votação no legislativo de seu município.
Júlio César (PT) foi o primeiro vereador negro eleito em Mutum em 100 anos. Vereadora de Caratinga, Giuliane Quintino (PT) contou como, muitas vezes, duvidaram de sua capacidade de oratória, perguntando, inclusive, se não haveria alguém por trás dos seus discursos. “Sou eu mesma que falo. Mulher negra capaz de falar por si mesma.” O presidente da Câmara Municipal de Teófilo Otoni, Lidiomar Souza, encerrou defendendo a importância da organização de parlamentares negros.
Parlamentares presentes:
- Ana Paula Siqueira
- Andréia de Jesus
- Leleco Pimentel
- Macaé Evaristo
- Cristiano Silveira
- Vereadores
- Giuliane Quintino (Caratinga)
- Leni Nobre (Araxá)
- Gilsa Santos (Governador Valadares)
- Lidiomar Souza da Silva (Teófilo Otoni)
- Júlio César (Mutum)
- Rosemeire de Oliveira (Lavras)