Representantes de diversas entidades civis participaram do lançamento da campanha “Revida Mariana”, que reivindica a reparação integral das pessoas atingidas pelo rompimento da Barragem de Fundão, ocorrido naquela cidade em 2015. A cobrança aconteceu em reunião na manhã desta terça-feira (26/9/23) e lotou o Espaço José Aparecido de Oliveira, da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). A audiência aconteceu a pedido da deputada Beatriz Cerqueira (PT).
Além de pedir por justiça para os atingidos e denunciar as mineradoras Vale, Samarco e BHP Billiton, todos os participantes emitiram duras críticas à Proposta de Emenda à Constituição (PEC), apresentada à Casa pelo Governo do Estado, por meio da qual se pretende acabar com a exigência de referendo popular para a privatização nas áreas de energia e abastecimento de água, além de reduzir o quórum necessário para a aprovação de leis desse tipo.
Integrante da Coordenação Nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Thiago Alves criticou o governo pela negociação da repactuação do acordo de Mariana, afirmando que uma negociação de bilhões é feita em nome dos atingidos, mas sem nenhum tipo de escuta às pessoas.
“Ninguém pode falar em nosso nome. Queremos participar desse processo e dialogar com as instituições de Justiça e os governos federal e estadual. O governo Zema nunca se reuniu conosco. Ele é governador de todos e tem que nos ouvir”, disse.
Alves afirmou que o MAB é contra a privatização da Cemig, Copasa, Gasmig e demais estatais que estejam na pauta do Estado.
A agricultora, pescadora e coordenadora da Comissão de Atingidos de Governador Valadares, Joelma Fernandes Teixeira, frisou que, 8 anos após o rompimento, nada foi feito para dar a devida reparação às comunidades impactadas.
“Quantos anos mais vamos precisar para conseguirmos a justiça que estamos buscando? Quem sente na pele somos nós, atingidos. Para eles é indiferente, continuam suas vidas normalmente, com seus investimentos. O dinheiro vai para fora do País, só ficamos com o lixo”, protestou.
Representando a Comissão de Atingidos de Barra Longa, Cristiane Donizete Ribeiro Martins fez denúncias contra a Fundação Renova, que não estaria dando a assistência devida aos atingidos e fazendo propaganda enganosa nos meios de comunicação.
“Algumas casas construídas para os atingidos estão piores que as originais, estão para cair. A Renova não se importa. Muitos familiares estão morrendo de depressão, sem suas casas e sem receber justiça. Eles dividem as comunidades, não reconhecendo os direitos de todos os atingidos. Às vezes dentro da mesma família o marido é reconhecido e a esposa não. Todos nós temos direito ao reconhecimento e à reparação”, disse.
“O Vale mais fértil do mundo virou o Vale da fome”
A coordenadora institucional da Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (Aedas), Franciene Almeida Vasconcelos, trouxe alguns dados relacionados aos territórios que a associação atende. Segundo ela, 88% das pessoas nas regiões do Rio Doce, Brumadinho e Barra Longa declararam que perderam renda após o rompimento da barragem.
“Além disso, 93% realizavam alguma atividade de subsistência para sobreviver e agora 81,5% estão enfrentando algum tipo de insegurança alimentar. O que antes era o Vale mais fértil do mundo hoje tem pessoas passando fome. E o mais absurdo: 76,5% nunca receberam auxílio financeiro. Desses, 91% nunca sequer receberam o porquê da negativa da Renova. E 65% dos atingidos não receberam nada, nenhum tipo de pagamento. A campanha Revida Mariana é mais necessária que nunca e a Vale e a BHP nunca lucraram tanto”, pontuou.
Atingida pelo rompimento da Barragem de Fundão e representante do Movimento de Ressurgência Purí na Bacia do Rio Doce, Meire Mniamá Purí ressaltou que os povos indígenas foram atingidos diretamente com o rompimento da Barragem, mas mesmo assim a Fundação Renova não reconhece seus direitos.
“Nossa ancestralidade e cultura morreram junto com o rio, perdemos nossa tradição. Gostaria de estar frente a frente com o governador, para falarmos dos nossos direitos. Convido-o a conversar com os atingidos.”
MAB se une à Frente em Defesa dos Serviços Públicos
A coordenadora-geral do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (SindUTE-MG), Denise de Paula Romano, deu destaque à aliança entre o MAB e a Frente em Defesa dos Serviços Públicos, composta por 24 sindicatos, também marcada por ato realizado junto ao lançamento.
Segundo ela, “só conseguiremos continuar vivos se nos unirmos e entendermos que água, energia e nossos recursos naturais não são mercadoria, mas sim direitos de todos. Vamos nos unir para proteger o que é público e que esse governo quer vender”, ressaltou.
Presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Jairo Nogueira Filho disse que o Governo do Estado não gosta de ouvir o povo e quer tirar da população o direito constitucional de escolher se as estatais devem ser ou não vendidas.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgotos do Estado de Minas Gerais, Eduardo Pereira de Oliveira, e o coordenador-geral do Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais, Emerson Andrada Leite, reforçaram o papel da privatização da Vale no rompimento da Barragem.
“Quem esquece o passado, está condenado a repeti-lo. O crime começou com a privatização da Vale. Precisamos revidar e ter responsabilidade por todos os atingidos”, completou Leite.
Com informações da Comunicação da ALMG.