*Por Neila Batista
Depois de quase quatro anos no governo, o senhor Zema não sabe o que é Política de Assistência Social?
Ao fazer demagogia frente a lideranças religiosas, o governador mineiro nos saiu com essa pérola: a assistência social “só fornece aquilo que o corpo pede”, enquanto igrejas e pastores evangélicos “fornecem aquilo que a alma necessita”.
Na condição de Assistente Social, com quase quatro décadas de formada, revelo aqui minha indignação com a ignorância e o desrespeito nesse tipo de comparação. Como estudante de Serviço Social, na PUC MG, já trabalhava com crianças e adolescentes carentes no Ciame Pindorama. No Fundo Cristão para Crianças, não só em BH, mas no Vale Jequitinhonha reforcei minha convicção de ter feito uma escolha profissional necessária. No Projeto Providência, na região do Taquaril – na capital mineira – idem.
Como gestora pública na Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), no governo do estado e no Ministério do Desenvolvimento Social, acompanhei o riquíssimo processo de constituição de uma Polícia nacional de Assistência Social. Como parlamentar que fui, e como assessora que sou, pratico essa visão crítica e libertadora da Assistência Social.
Ao contrário do que entende Zema, a Assistência é muito mais que filantropia, primeiro-damismo ou mero cuidar da fome imediata das pessoas. Ele não sabe, mas em países desenvolvidos como a Noruega, Suécia, Alemanha há fortes demandas de Políticas de Assistência. Sim, inclusive para pessoas das classes médias, até mesmo as mais materialmente “resolvidas”.
A assistência social, como política pública emancipatória, cuida – sim – da alma das pessoas. Cuida de informar que as pessoas são portadoras de direitos. Ao contrário de pretender escravizá-las difundindo narrativas alienantes e alienadas com fins desmobilizadores, uma política de Estado que se baseia na assistência emancipatória promove ações que colocam em movimento massas hoje carentes de consciência de que têm direitos básicos e que devem se organizar para exigi-los.
É possível perdoar a um principiante um deslize do tamanho desse cometido por Zema. Mas não a ele, que não é mais iniciante. Na verdade ele é um preconceituoso. E mais: o que ele quer é um povo anestesiado por “pastores”, um povo ignorante de seus direitos constitucionais. Ele quer um povo que ache que sua condição de carência material e espiritual é resultado de alguma condenação divina, algum castigo por algum erro cometido no passado.
Senhor Zema, vá embora. Volte para suas lojas. O exercício de funções públicas exige muito mais do que ver um beneficiário de políticas sociais como um cliente de seu comércio. O senhor é uma vergonha para o povo mineiro!
*Neila Batista – Assistente social e vice-presidenta do PT de BH
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Este é um artigo de opinião. O posicionamento do autor não representa necessariamente as ideias do PT-MG.